quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Numb - Portishead

No fim... A única maneira de apagar a luz é acender um fósforo e continuar a reconstruir a eterna claridade!!

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

sábado, 6 de dezembro de 2008

Engoli a respiração. Travei as pulsações das palavras dentro da boca. Nutrido com serenidade. Faço um compasso de espera. Caminho em frente. Com passos de esperança. Acrobáticos. De costas voltadas para o caminho. Ilumino os retratos escritos nas paredes com a ponta do dedo indicador. Nutrido com teimosia. Ponho de lado o lado isolado da fábula de mim. Fora do peito. Luto com as palavras em contos e desencontros.
Escuto o vento correr connosco à vassourada em ilegítima defesa.
Invento. Mosaicos. Disparates. Ironia de dois gumes. Frases meio vazias. Saídas de emergência. Para lado nenhum. Útero em ventre de prisão. Solidão contagiosa. Cócegas que não sossegam as emoções como também cegam o olhar das noites.
E luto. Nutrido com paixão. Luto. Em litígio com esta pseudo intimidade. Com os búzios. Com as conchas. Com os oráculos. Com chás de aromas açucarados. Com chamas em tochas que ardem. Apagadas. Sim. De luto ou não. Luto nutrido pela vida. Alimentado pelas palavras. Absurdo e mudo. Sem essa tez negra de aguarela perpetuamente submersa à entrada dos sonos que não dormem. Sem tripé. Sem trapézio. Sem pára-quedas. Sensatez. Simplesmente. Brincadeiras que recriam verdades. No habeas corpus dos afectos. Indeferido. Mas em pé. De pés bem fincados no voo. De pé. Em queda que pára o tempo. Que dás ao relógio que não voltou.
Porque luto. Espremendo sobrancelhas e pálpebras até achar uma gota de água cristalina. Um meio à meio do infinito transitório. Quem sabe? Rajadas de artilharia poética inofensiva como dentadas de anjos. Mas. Se fizerem ferida. Mandem-me sete vidas de volta aos palmos abaixo da terra. Decretem o amor. Mas. Não sem antes me ensinarem o que fazer com ele. Omitam as núpcias infiéis deste acto de viver vivo.
E tu.
Dá à luz uma constelação. Divorcia-te de ti mesmo. Provisoriamente. Delicia-te com as tuas ilusões. E luta com o traje que despes o corpo. E sem te deteres perante a espessura dos muros. E sem tremer por teres pouco mais que a textura fútil dos teus textos. Advoga apaixonadamente esta breve fábula transitória. Faz com que a poesia chegue límpida e leve como uma dádiva. Sem peripécias. Prolonga a sentença irrevogável. O conto final. O ponto de partida para o outro lado. Insustentável. A nossa intimação íntima e última. Inevitavelmente. Suspensa numa pena que a todos suspenderá.
Ganha-a!! Mesmo que ao chegar repares que a saída não tem estrada
.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Projecto colectivo

Encontro de documentos poéticos no plural reunidos num livro de expressões singulares...

Apresentação:

Lisboa 5 Dezembro, Livraria Barata, 19.30h

Mais informações em: 22olhares.blogspot.com

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Lapso

Se por um só dia for...
Nada melhor que uma chantagem de afectos para encobrir todos os lapsos de fraternidade por desembrulhar.

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Alcateia Imagética
Com
António Lobo Antunes

Quando cheguei já a porta estava aberta. Interrompi. Talvez um prefácio ou uma dedicatória para alguém. Presumo. Encontrei o mesmo silêncio definitivo. imperativo. Todos os ruídos eram semelhantes ao Silêncio. Somente quebrado pela fricção entre a caneta e a folha de rascunho. Nada mudou. A inquietante estranheza do "lugar de trabalho" no entanto, hospitaleiro e afável...

Sem caprichos nem sintómas visíveis de qualquer espécie de vedetismo. A conversa deabulou à volta de tudo um pouco. Tímida. Reservada. Mas fluente...

Com um sentido de humor paradoxalmente complexo e acessível.

Entre um sumo e uma torrada. Mais uma oportunidade. Ler o escritor sob um ângulo diferente. O que nos revela o homem. Toda a sua humanidade. Sinceridade. Autenticidade. O homem com situações reais. Comuns... O homem fora do livro.

Uma personagem humana admiravelmente humilde. Dotado de uma sábia e genial grandeza interior...

Não são só as palavras.

É o acto.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Narrativo
U
m horizonte cada vez mais sempre. Aqueles anéis de luz interrompidos quando. A mão que acaricia depois. Talvez uma alma circular que embate desde. O despertador que não trocou. Outra contradição íntima que entretanto.
Sempre. Sempre com palavras desarrumadas sobre a mesa. Quando. Quando o crepúsculo vier corrigir as linhas curvas dos meus passos. Em câmara lenta. Depois. Depois da raiz quadrada. Dois versos. uma quadra. De segredos divididos. Com uma máscara translúcida. Hipérboles. Tangentes. Ângulos vários sem métrica. Segmentos. Circunferências. Eixos. Hipotemusa de estranhos poemas. Números pares. Números divorciados e ímpares cada um par da sua solidão. Depois. Depois destes monólogos confusos. Com fusos horários trocados semeando ilusões nos calendários da memória. Desde. Desde o momento em que tentas excluir a exclusão sem perder a tua própria âncora. No fundo do mar. Entretanto. Entre tantos holofotes virados para o anonimato. Enquanto. Enquanto o semblante indiscreto de um olhar anonimata-me a luz do candeeiro ao relento de mim. Mesmo. Mesmo. Que a noite venha mastigar o barco de papel não vou cruzar os abraços. Na fronteira dos equívocos e gralhas. Enfrentarei a utopia com palavras de aço. Irei de boca em boca com uma explosão de tambores acústicos declamar. Pregar. Recitar. Narrar. O esplendor das nossas batalhas. Irei. Mesmo com uma alcateia de aranhas penduradas por detrás das vidraças. Vestígios carnais à tona da cama. Roupa por todo lado espelhada no chão. Espelhada nas escadas. Espelhos partindo. Fabulosamente pobres. Aquela cortina quase sem cor. Rente à alcatifa. Aliás. A cortina faz de porta. Espécie de biombo. Desde o nervo em que fui incapaz de dar um pontapé naquela porta de madeira enferrujada. Não. Apenas tentei afugentar uma mosca com a ponta do pé e sem querer derrubei as asas da fechadura dos segredos só de mim anónimos. desconhecidos. Os destroços em forma de alimento. A panela queimada por falta de esquecimento. A loiça para lavar a vontade espalhada na cozinha. A luz redondamente enganada por arrumar no tecto. O pano para varrer a preguiça de esfregar os olhos para te ver. No fim. Porque.
É festa-feira.
Amanhã será sábado o dia. Pois. Irei. Irei. Embora tímido nestas regras sem jogo. E Rei na longa paciência que é amar sem trono. Mesmo sem poesia nos bolsos para comprar o pão de cada verso. Mesmo desempregadamente no olho das ruas que me empregam partidas. Mesmo de prego em prego martelando as portas. Irei. Desocupado. Aprender mil línguas para te dizer um beijo. Em todas elas pedirei a absolvição da lâmpada lá em cima que te faz confundir as estrelas com as pedras. Sonâmbulas. Pedirei. Mesmo sabendo que em nenhuma delas te vou compreender.
Não vou cruzar os abraços. Vou excluir a exclusão. Voar alto. Sonhar baixinho. Antes que a noite chegue para mastigar o arco-íris de farrapos coloridos. E o vento regressar para me ressuscitar à chapada. Dizendo-me em tom de segredo. Acorda! Acorda meu filho. Acorda! Já é dia. Mas. Mas vocês enrolaram a corda à volta da língua um cronómetro antes do sono alcançar os olhos. Sim. Como vês. Só resta esta jangada. De papel e trapos. Mas. De aço como algodão. Algo tão delicado que as mãos dão em leveza e brandura para não quebrar a corda e o sono e a cama e a língua e o dia e o tom em segredo e as pedras e as estrelas e as máscaras e o arco-íris e a jangada e os papeis onde esqueci as vírgulas e a pontuação final nas nossas loucuras. Como vês. É no convés dela onde alvejo as ondas que anonimato cada vez que os martelos se recusam a absolver o silêncio enrolado na língua.
É do ar do fluxo marítimo que decifro o meu nome.
Porque não conheço sinónimos para o impossível.
Porque um verso são versões que os outros dirão.
Porque a grandeza da minha razão será sempre mais luminosa quanto maiores forem os lábiosrintos da minha simplicidade.

sábado, 18 de outubro de 2008

Paradoxa

A imagem é tudo. Para quem não tem mais nada para dizer.

Pois então. Palavra após palavra. Vou. Fico. Arrisco. Levanto-me. Esperanço-me. Com a última espera a morrer. Escravo um poema. Um verso. Cravo em cada mentira uma verdade. Breve. Nervosa. Com a flor à pele dos nervos. Grito. Alugo a alegria à hora. Encosto-me à jenela. Nela sinto o naufrágio das gaivotas. Em sobressalto. Susto. Cuspo-te pelos olhos. Cegos de promiscuidade. Obscenos. Como a invaginação fértil quase nocturna. Da paradoxa que me incendeia os pensamentos nas horas desabitadas e vagarosas e atrasadas e frias.

Porque de boas intenções está o inverno cheio.

Meu Deus!!! Dá-me vida dentro do sonho. Soluça-me os sentidos para me passar o susto. Não apagues a ilusão. Nem a bússola que me desvia. Sou de ti. Aquele que de ti é o mais teu. Cortei o revólver aos bocadinhos. Devorei à queima-roupa todo o teu vestuário. Num terreno baldio. Queimei as lágrimas. Palavra após palavra. Fui. Fiquei. arrisquei. Esperancei-me. Fui contigo pelos infinitos do teu horóscopo. Inútil. Inutilmente errado. Arrisquei. O descaramento de convocar um exército de sonhadores para simular um atentado poético na tua inspiração.

Porque escrevo. Para perder tempo. Porque vivo como quem desenha nos pulsos uma lâmina sanguínea suja de ciúme.

Porque amar ela é nunca me ter amado. Porque amar ela é anestesiar-me em todas as direcções dos meus sentidos. Amarela é a cor de mim e dos meus vestígios. Amarela é a cor do arco-íris que pintei nas folhas de rascunho vinte e quarto dias por hora à procura de uma ama onde deitar os restos do nosso cansaço entre quatro paredes oblíquas.

Para quem não tem mais imagens para dizer. A palavra é tudo!

domingo, 5 de outubro de 2008

Caminhos escritos à mão

Enfeitarás o coração com sentimentos presos fora do comum acreditando desesperadamente que é possível endireitar o destino com uma varinha mágica. Custe o que custar. Agarra-te. Não me deixes cair fora do túmulo do poema. Sacode-te!!
Escreve mais um copo para esquecer. Só mais um pouco desta loucura essencial ingerida aos tombos. Mais um caminho que termina amanhã. Só mais um corpo com sono de viver.
Quem ama assim as nuvens é inevitavelmente um dá dor de palavras. Eu sou simplesmente um dador de sangue em estado sólido. Custe o que custar. Não me deites fora. Deita-me dentro. O corpo é irrepetível por mais que o plastifiquemos. Uma desordem no equilíbrio dos pilares da ingenuidade e do tempo de ser sem tempo. Um chamamento vagaroso sem resposta para o fim. Custe o que custar.
Que não te custe muito não me deitar fora. Deita-me. Fora do comum. Fora da lei. Fora daqui. Do poema para fora das palavras. Das palavras para fora do silêncio. Do silêncio para fora da tua boca. Deita-me. Adia a ousadia da noite. Não adianta trancar os olhos. Adiantei os ponteiros do relógio para trás. Custe o que custar.
Serei sempre o primeiro a não entender nada do que escrevo. E o último a engolir estrelas escritas à mão.
Fora do comum. Fora deste fragmento autografado que te ofereço. Como se fosse uma fotografia de mais um sonho embrulhado na tua mão. Custe o que tiver que ser. Serei sempre um dá dor de sangue do universo do teu não querer. Custe o que custar. Se temos que sorrir então que doa de uma só vez.

Pedir aos pássaros que regressem contigo dos céus não é senão pedir em vão asas para continuar a cair!!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Capítulos para reler de olhos fechados

Através do timbre admiravelmente autêntico de Luís Gaspar que amavelmente me emprestou a sua poderosa voz para atribuir sonoridade ao documento poético "
360 graus de silêncio" bem como ao depoimento intitulado "Hipérbole".

Para ouvir faça clique em:

"Lugar 91"

sábado, 20 de setembro de 2008

És-cada degrau de ti

domingo, 14 de setembro de 2008

Mil poemas abaixo de zero

terça-feira, 9 de setembro de 2008

domingo, 31 de agosto de 2008

Entre Parábolas

Um dia hei-de ser dono dos meus próprios acontecimentos. Hei-de acontecer como borboletas no tempo de regressar. Anoitecer num pedaço de luz. Acontecer-me na alegoria das coisas reais e na alegria das coisas poéticas.
Por enquanto. Faz de conta. Faz de conta que as palavras embora desmaiadas servem para servir para alguma coisa. Por enquanto. Conto-me contos antes de adormecer. Embalo versos. Algarismos capazes de medir o peso de uma voz com cálculos de tabuada. Por enquanto. Peço ao corpo para não falecer antes de mim. Porque entre parábolas e retalhos em véspera de poesia abundam vestígios de vida baseados nos factos verídicos das tuas ilusões.
Entre parábolas. O cataclismo. De repente instante de querer ser contente… Entre parábolas...
Quem nunca habitou um sonho por engano à beira-mar ou à beira do silêncio? Quantas toneladas mil de gente à mercê dos vazios rasgaram unhas mas aprenderam a soletrar o Inverno à distância de uma fotografia?
Paz de conta que estás em faz contigo mesmo! Como tu também eu trocaria um poema por uma flor. Os meus dois braços por um só abraço. Os meus lábios por um beijo. Os olhos por um olhar qualquer. Seja lá de quem por. For mim tanto faz. Faz de conta que o amor é o engano maior que as palavras. Estas palavras. Desordenadas e mordidas e encardidas e trocadas e erradas. Mas. Alegres em sua fértil e ténue exultação. Como tu. Trocaria. Esta casa. Esta cadeira. Esta cadeia. Esta cama. Esta repetição. Este equívoco de escrever sem seguir a gramática interior de cada sentimento.
Porquanto não escrevo línguas. Analfabeto-me em linguagens. O ponto de partida para entender os meus enganos não é a partida. Não é a quebrada ou a rachada. É a chegada. De quem nunca soube partir para sempre!
Partir. Um vidro. A alma. Partir. As cordas vocais de um grito. Partir seja lá para onde for. Seja lá com quem for. Seja longe ou preto. Seja de rosa ou azul a cor do mundo. Se já te esqueceste de nós. Se já aconteceste no calafrio que os lençóis não conseguem calar.
O espelho. Agora só. Onde me demoro a sair. O espelho. Agora sou eu a serenidade e o contentamento à porta do que ele reflecte. Agora só sementes. A terra. O sol. O sal e o sonho. Sou mar se mentes com mentiras que já não me fazem sorrir. Sou os impensamentos de alguém. Os tambores cardíacos batendo em voz alta no peito. Agora só. As borboletas. Pedaço de luz. Coisas reais. Coisas poéticas. Coisas. Contos que fazem de conta. Algarismos. Parábolas. Vestígios. Sementes. A partida. A chegada. Em véspera de poesia!
O espelho. Agora sou. Asas rastejando bem alto sobre a terra húmida que já não falo. Um dia hei-de ser. Uma noite. Um dia. Como quando o fotógrafo nos disse para sorrir e esqueci.
O espelho. Mostra-me sempre o lado imperfeito. Partes íntimas dos pensamentos que o corpo está proibido de exibir.

domingo, 17 de agosto de 2008

Frase do dia e da noite

Às vezes a única ausência que sentimos é a nossa!

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

meta-AMOR-foses

Manda-me de volta todos os beijos que não demos na hora da despedida que nunca existiu. Manda-me um só momento que sirva para resumir todos os instantes provisoriamente eternos, devolve-me a metade de ti que me pertence, a peça do puzzle que inventei para me entreter enquanto exploro os meus excessos à flor da pele, enquanto culpado me confesso do silêncio audível no interior da tua boca.

Poema?
Devolve os sorrisos que não partilhei com os teus lábios. Reaparece, grita-me a tua ousadia, cospe-me no rosto e no resto que sobra de mim, vomita os fantasmas que coloquei nos teus sonhos, arranca de mim os filhos que não me deste, morde, trinca, beija este corpo com bofetadas. Isto é amor. E se não for, então que se lixe!!

Que se lixem as rosas que não te ofereci, que se lixem as lágrimas que bebi do teu olhar, que se lixem as recordações na reciclagem da memória, que se lixe o vazio que escrevo, que se lixem os instantes provisórios, os beijos, a despedida, o puzzle e eu. Mas, por agora... imploro-te...
Apaga no coração as mil vezes que te matei sem te avisar e as vezes mil que não te amei e escrevemos utopias eternas nos lençóis!!
Poema?

Rasga-me os sentimentos que já não sinto, as pétalas, os ramos, o pólen, as raízes, deita fora todas as emoções que já não penso e guarda os espinhos para te acariciarem a epiderme e dorme sem que a tua boca cuspa uma lágrima, enfurece-te carinhosamente, corta em fatias essa overdose de esquecimento, anestesia o meu choro com beijinhos mesmo que não sentidos.

Poema?
Engana-me na única verdade que é acabar e regressar ao pó e quando estiver deitado, grita-me que não morri!!
Poisa em mim como uma tempestade de orgasmos organizados por desordem alfabética. Empresta-me o tempo que não tive para te dizer o quanto demorei para encontrar o ponto onde começa e termina a eternidade que se encerra numa hora onde não cabem sessenta minutos de realidade. Uma hora onde não cabe nada que não seja sublime como a tua doentia solidão enterrada no solo árido deste fragmento poético quase tão ofensivo e obsceno como o dono dele.
Meu poema... meu amor...
Empresta-me um sonho que não seja meu, uma mentira pequenina para me aliviar a espera. Uma mentira, dessas que não magoa mesmo quando se tratam de verdades violentamente incuráveis como uma despedida para sempre. Para sempre e por hoje, empresta-me um alfabeto diferente. Cansei-me de dar nas vistas sempre com os mesmos disparates. Cansei-me de ti que ingenuamente apenas serves para me fazer sorrir de nervos, tão assim, mais ou menos isto ou tão míope, que só visto. Tão ausente, tão desatento, tão alheio, tão filho da mãe como a vida, às vezes. É!!

A morte é a incurável certeza que nos mantém vivos!!

Se alguém duvidar, então ressuscitem-me deste sono, atirem a primeira, a segunda e a terceira pedra e deixem-me descansar na sétima noite da minha ausência para que no final possas perceber que é tarde para me proibires de sonhar...

E isto será sempre amor! Mesmo que as palavras doam, será, mesmo que não seja nada. Será, mesmo que pareça um desmaio voluntário, um recém-nascido à espera de um espancamento fraternal que lhe desperte o primeiro choro. Isto será sempre amor, uma teimosia tragicamente razoável que excede as utopias que deambulam à volta da tua imperturbável apatia. Será o que tiver que ser portanto, empresta-me uma catástrofe de miminhos, o desastre afectivo das tuas quimeras, devolve-me o alicate, o serrote, os martelos, as enxadas, a guilhotina e, já agora, os bisturis, preciso de uma cirurgia emocional, que arranquem de mim o teu suor e me deixem ficar apenas a esperança e o lapso de ser imaturo porque de real só me resta a discreta verdade da fantasia.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Poeticoterapia

Antes de folhear as flores pintadas de fresco. Arrumei os sentimentos no seu de vidro lugar para não quebrar mais nada. Mandei chamar os curandeiros da loucura para te ressuscitarem pelo menos na minha memória. Depois. Vasculhei o passado em busca do futuro sem temer a sobrevivência do presente. Remendei o coração com as linhas de um caminho-de-ferro. Desenrolei as pétalas substituindo-as por pérolas. Fiz-me vagabundo à lareira dos sonhos ao relento.

Depois. Muito além de nós dois. Descaradamente e sem asas nas algemas.

Cruzo-me comigo por mero engano nos intervalos do sono. Deambulo pelo quarto com uma caneta na mão pronta a disparar. Descarrego um poema apenas da boca para fora. A dor meço aos palmos como se fosse possível medir e calcular com a mão o comprimento exacto do teu odor. Meço cada centímetro do teu sentimento como quem se espanta por morrer pela primeira vez sem tempo para escrever a última prosa feita a base de extractos de poesia. Com alguns restos de nada e um pouco de pânico. Depois. Escrevo e escavo a terra. Atiro-me flores lá para baixo. Adormeço. Adormecendo a dor que não vem escrita no teu caderno de contos de fadas. Agora não me venhas dizer que é triste desejar loucamente manter os olhos escancarados à vida nem que seja à força.

Atreve-te a admirar o último raio de sol. A humildade nos gestos. A humidade nos olhos. Sim. Não vou ler o teu olhar. Também eu sou uma ponte a construir. Sobre a água. Ofende-me com os teus elogios. Também eu sou um analfabeto assumidamente em constante denúncia de mim. Impudicamente. Doente de esquecimento e infinito e esperança e carinho e de ti. E não de objectos como objectivos. O meu objectivo é o Ser. Ser inconquistável como um escândalo de sonho. Imperceptível como os ritmos quentes que fervem e remexem as ancas do mundo. E se quiseres despedir os meus murmúrios. Despe-te à vontade. Despede-te de tudo. Despe tudo e todos que o teu despeito levou. Despe-te de mim. Despede-te com aplausos. Depois... Tira tudo. Menos o coração. Vai. Vai-te em qualquer lugar nem que seja embora.

A tua doença é ter um abismo na alma perigosamente intransponível!!

Mas, antes de me desmascarares a flor pétala a pétala. Cura-me com o teu veneno. Não tenho vacina para nada!

Também eu sou um analfabeto da verdade que procuro.

Desconexos

Para quê complicar a essência do que é essencial para fazer um comentário?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Subdoxos

A vida a dois é o formidável suplício que os solitários procuram!

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Subterrâneo

A ver vamos se ainda és capaz de desabotoar o meu corpo ao meio e devorar cada guloseima sem vergonha na boca. Não sentir nem de mais nem de menos. Ser de uma ponta à outra um monte de sonhos por resolver. Nem mais nem menos. Certeiro na medida incerta do futuro. Cem vezes as que nada sentiste. Cem poemas desinibidos sem rimas nem versos. Cem flores. Uma a uma. Caindo do céu até ao centro do teu arquipélago subterrâneo. Uma a uma. Sem tirar nem pôr. Sem atropelar as estrelas nem marcar o lugar do fim porque no fim e ao cabo tudo acaba. Até os pormenores por maiores que sejam os saltos altos da vida e os outros que usas nos pés. Sem vergonha na boca. Cuspir silêncios. Cuspir a alma torcida no peito. Fugir pelos atalhos e desfiladeiros do sonho à superfície dos sentidos. Fazer acontecer as palavras até ao limite dos gritos escritos em voz baixa por ainda serem incapazes de assumir as emoções quando esteticamente do avesso. A ver vamos se terás fôlego para me trazer inspiração boca a boca de olhos vendados. A ver vamos!! Rever as nossas imagens sem escrúpulos a gatafunhar e a borrar as folhas verdes que enfeitam a minha trincheira despovoada de ti mas com ilusões maduras. De carne e osso. Porque a vida é uma imagem com várias imagens. E nem todas nos dizem o que perdemos enquanto procuramos…

quarta-feira, 18 de junho de 2008

Hipérbole

Apaguem as minhas impressões digitais no corpo desta idosa meretriz com a qual entretenho a insónia nas noites em que nego a aceitação de mais uma negação. Arranquem-me das mãos o papel e a caneta e as emoções e eu calar-me-ei. Prendam-me a língua e as cordas vocais e as veias e os lábios e os dentes para não trincar nem mais uma palavra. Assaltem-me a inocência. Prendam-me que não sei o que falo.
Nego...
Nego o teu castelo com arame farpado à volta das muralhas para que depois do arrepio mais ninguém se atreva a te fazer salivar dos olhos. Amarrem-me ao amor e soltem os vossos beijos e saltem e sintam como sou frágil como uma rocha pois cansei-me de te lançar disparates agora simplesmente pretendo disparar um beijo à distância tendo como alvo a tua boca. Falem-me que não sei o que prendo no coração que nego. Levem daqui o papel e a caneta que eu me calo. Calem-me as mãos e os dedos ainda assim vou gritar que não quero acabar aqui. Que não estou fora do prazo de validade para me amares aqui. Que aqui o olhar é negro quando o adeus marca a hora que nego.
Levem-me...
Prendam-me que não sei quem me ama. Beijem-me. Arranquem-me daqui. Nego quebrar outra vez o espelho em estilhaços mil de ternura. Chorem-me com gargalhadas de entusiasmo se me quiserem acordar. Chorem-me às escondidas. Entre quatro paredes. Quando mais ninguém existir ao teu redor além de ti e do teu travesseiro. Quando não mais precisares de sorrir apenas para fazer ginástica facial. Ressuscitem-me. Não tenho por quem esperar. Espero por mim. Ninguém vai bater à porta. Batam a porta em mim. Irei abrir mesmo sem nada para dar em troca ao silêncio. Deixem-me entrar ao menos para procurar o juízo que perdi nas reticências da tua loucura. Para te salvar dos lapsos da minha memória e do tal romance que atiramos pela janela connosco lá dentro trajados de amantes à paisana. Negro o teu semblante dinamitado com algodão doce. As palavras que lanço no fundo negro desta página. Nego a lâmpada fundida das mentiras de ontem visíveis na verdade de hoje.
Rápido...
Prendam-me que não sei quem amo. Prendam-me. Virei a página mas o livro é o mesmo. Mudei o amor mas não o lugar do coração. Prendam-me cá fora. Não quero acabar dentro sem engolir por fora a revelação do que fui. Tranquiliza-te mesmo que não compreendas por que razão deixei as minhas impressões digitais na tua língua. Ninguém vai bater à porta. Ninguém vai perguntar a data de nascimento da tua solidão. O número de identificação dos teus sonhos. A matrícula do teu passado. O nome completo do teu coração. O estado civil dos tendões do teu pensamento. Ninguém vai. Enquanto me entreter a fazer festinhas ao tempo à paulada. Porque o tempo que engoliste sem saborear as horas e os minutos e os segundos mais ninguém vai usá-lo. Nem para pano de limpar o chão.
Não nego que me levem... Mas...
Prendam-me que não sei quem me chama. Amarrem-me ao amor e soltem aplausos. Soltem cânticos de esperança. Da maresia das falésias. Dos murmúrios dos rios. Do aroma das frutas que desfrutas. Das florestas e bosques onde há pássaros soltos em voos de nunca mais voltar pois há febre nas palavras mas é liberdade este amarrar de vida com cordas vocais. Mesmo que não concordes comigo. É livre este amar de não saber.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Prazeres imperfeitos

Se pedir a verdade é pedir demais, ao menos, injecta-me um tranquilizante antes de abrires o coração. Espreme as minhas lágrimas até ao limite do teu sorriso e ainda que chores, não será demais, entornar uma luz no caminho onde tiveste a primeira convulsão fraternal com ligeiros ferimentos numa esquina qualquer da tua solidão.

Se pedir as estrelas é mendigar demais, ao menos, seduz-me com os teus dedos com feições de lâminas a escrever sobre a minha pele - Que nada mais temos em comum senão o facto de ambos sermos diferentes.

Depois… Apaga a luz!! Vou procurar no escuro o astro dos meus prazeres imperfeitos.

segunda-feira, 2 de junho de 2008

Não me importo de viver a ilusão desde que a realidade nela contida me traga um golpe mágico de felicidade enquanto durar a embriaguez.
Em que lado da alma a comichão é maior?
No homem que não tem sentido de humor ou na mulher que já não vê sentido nenhum no amor?

quarta-feira, 28 de maio de 2008

Prefácio

Por um dia não me vou esmagar contra as metáforas. Despir-me diante de personificações e outras figuras do mesmo estilo. Hoje vou lamber a crosta da tua língua. Perseguir os vestígios e as pegadas da tua voz a declamar o absoluto num tom soprano. Sequestrar o hóspede que tens alojado no coração e substitui-lo por mim. Com um pouco de amor. Um pouco de nós. Vou exigir a eternidade com entrega ao domicílio! Com um pouco de noite. Um pouco de sonho. Descalçar-te a maquilhagem. Aleijar-me na sombra trémula sem arrefecer os teus sentimentos à luz de vela. Com um pouco de lágrima. Um pouco de nós dois. Refugiar-me no prefácio da tua timidez. Aceitar-te suja de embriaguez com nódoas cosméticas no rosto. Aceitar a finitude ininterrupta da vida como quem nega ter nas mãos uma raríssima pedra de alcatrão que não vale um minuto da nossa despedida. Daqui a pouco. Não sei! Por um pouco tão pouco não sei se sobrevivo ao perfume das flores que plantei debaixo da minha cama. Não sei. Desconheço os adjectivos com os quais qualificas o meu interior quando retiro a maquilhagem e me desconstruo cá dentro em palavras sem piruetas nem malabarismos fúteis. Não sei e nem quero! Por um dia não me vou amachucar como uma folha de papel. Uma folha talvez com mais um daqueles poemas exagerados com antídotos infecto-contagiosos. Sim! Inevitavelmente. As palavras são contagiosas. Infectam com o seu odor, a sua fragrância. Por um dia?! Só se tiver mais do que vinte quatro horas! Mais do que sorrisos postiços. Mais do que este amor paralelo em promoção no mercado negro. Mais do que o abismo do dia seguinte. Tão pouco…

Posfácio

Hoje, com um pouco de espanto vou sobreviver no presente do indicativo do teu futuro. Com um pouco de verdade. Um pouco de nós. Abrir-me à essência dos factos e afectos. Apanhar delicadamente um susto do tamanho do dia-a-dia com o desperta-dor matinal. Estoirar com a ampulheta que nos abrevia o tempo que nos resta. A teimosia que nos arrasta. Os restos de poesia que nos restam. Com um pouco de nós dois. Brotar. Germinar. Em flor. Na lista de espera à espera um do outro. Um do outro com um pouco de amor. Um pouco, mas, que seja!!
Que seja amor. Um caso à parte. Parte de êxtase. Parte de mim com um pouco de ti. Parte tudo o que quiseres! E parte. Vai! Busca no teu posfácio o instante de ser. Que sejas! Cócegas que me fazes com o olhar. Que sejas! Gaguejos que tento dizer com as mãos. E te sentem tocar. Mas sigo cego o caminho que a vida é. Com um pouco de audácia. Com um pouco de mim. Arranhas as noites e a almofada. Transferes a saudade para o outro lado da cama. Dás a língua à palmatória em nome dos beijos que não escreveste no meu rosto. Antes de adormecer tomas vitaminas para o silêncio que te afaga. Ao acordar tomas analgésicos para a solidão que te vai escoltar ao longo dos vários desencontros. Com um pouco de gente. Com um pouco de nós dois a cambalear firmes com passos desarrumados. Daqui a pouco estarás curada. Pronta para outro!
Só nos resta recolher do chão os zeros à esquerda da fervura que nos envolve. O que importa isso? És um algarismo à esquerda do amor? O que importa? Quando há tantos outros limites com tão pouco tempo de ilusão? Com um pouco de alma. Um pouco de nós. O poema germina. Seja qual for a semente que te entrar pela emoção adentro.

sexta-feira, 23 de maio de 2008

quinta-feira, 22 de maio de 2008

quinta-feira, 15 de maio de 2008

360 graus de silêncio

Atrevimento para esculpir vocábulos delicados, atrevimento para pintar fábulas vertiginosas calcadas por uma sólida crença de esperar por mim, retalhos que mordem as linhas tortas incertas por verdades que só Deus me pode revelar, ilustrações polvilhadas com pólvora verbal, episódios poéticos ainda que imperfeitos e descartáveis como uma verdade que amanha será outra coisa, fábulas paridas de uma inspiração febril e desobediente, fulgurante e impaciente...
Enquanto espero...
Não me falte nunca atrevimento e ousadia para cuspir palavras ásperas e incorrigíveis. Não me falte nunca um farol para me manter bem acordado, bem ancorado na realidade. Que não me falte nunca um poema na linha da frente do meu combate. Não me falte nunca a tua ausência nem as partes íntimas de um pecado qualquer sem piri-piri. Nunca me faltem as noites em que empresto bocadinhos de mim ao exercício maternal de dar à luz 360 graus de silêncio.

Mesmo que um dia cometam o delito de chegar tarde ao meu enterro ainda me encontrarão em vida. Interminavelmente próspero!!

sexta-feira, 2 de maio de 2008

Paradoxos

Acariciar-te a sangue frio sem lubrificar a minha língua, domesticar os teus gritos no crepúsculo em brasa no teu olhar, ser vegetariano e antropófago na ausência dos teus lábios,

Quem?

Detectar os pontos essenciais do teu corpo protegido com arame farpado, arrancar as raízes que te prendem ao olhar choramingas com o qual desfilas nas ruas, armadilhar as tuas ilusões com um sopro de ironia e algum erotismo gracioso,

Quem?

Ensaiar um sorriso diante do espelho, ensaiar uma declaração de amor, sair de casa esquecendo o sorriso no espelho e a declaração no interior das cordas vocais e, de repente, ter que improvisar o espontâneo diante da realidade feroz esplendidamente fértil,

Quem?

Semear um relâmpago nas nuvens, agarrá-las pelo colarinho, esbofeteá-las até ressuscitarem as lâmpadas fundidas do teu talento para reinventar um novo amor,

Sim, quem?

Hei-de descobrir o endereço dos teus segredos ilegítimos, hei-de largar esta abstinência de ti e deixar-me desviar pelo vício de te proibir a respiração com golpes de poesia, hei-de passear por ti em sentido inverso, distribuir-te o melhor papel na encenação, coagir-te com meiguices a representar que não estás a representar quando a tua boca deita fora um beijo em minha direcção, sepulta-me os destroços da minha sombra, corrige os traços oblíquos do meu rosto,

Quem?

Logo pela manhã, pentear-te o cabelo, os delírios, as lágrimas, a solidão, a voz hesitante, o corpo todo despenteado, o sono descabelado, o pijama enrugado, logo pela manhã, não ser vulgar, ser obsessivamente cúmplice das noites remuneradas com a tua carência afectiva, trair-te com outra, sim, seduzir uma outra fracção de eternidade, atrair-te ao folclore de palavras com alma, vazias por dentro, fragmentar o medo de te ouvires a ti própria, impedir que em mim se infiltre o teu suor, a metamorfose dos teus presságios de esperança e…

Quem?

Quem te vai relembrar a razão da tua vida quando não mais tiveres razões para recordar a tua memória? Quem irá preencher a textura do teu vazio trágico quando de ti o mundo ficar cheio? Quem irá dar sangue aos teus versos quando a inspiração te fugir do peito? Tirar fotocópias aos sonhos demitidos a meio do caminho, quem? Quem vai? Ler as palavras contraceptivas que fizeste desabar no útero dos poemas, ler-te sonetos quando tu desaprenderes a ler com as sensações, quem? Adivinhar as tuas mãos quando os teus dedos se fecharem, quem vai olhar por ti o mundo quando os teus olhos avistarem o deslumbramento absoluto, quem te vai amar e desamarrar dos paradoxos deste silêncio audível nas folhas em branco?
Quem?! Quem és?

terça-feira, 29 de abril de 2008

Loucos são os que possuem vocação para escapar ilesos ao sonho.

Mas. Guarda a tua apenas para ti!

domingo, 27 de abril de 2008

À margem

Tranquei a porta da cela. Aproximei-me da janela. Quis à força Abril os teus olhos com a chave das palavras...
Mas...
Nem sempre a liberdade está do lado de fora!

segunda-feira, 21 de abril de 2008

Insónias

Atiro-me à queima roupa contra os cobertores. Os soníferos se recusam a me embalar o sono. A chuva continua a desmoronar-se em trapinhos de água doce sobre a minha cabeça. Temo acordar amanhã com os sentimentos constipados, mas, não tenho outra anestesia senão brincar às escondidas com a insónia. Tenho preguiça de morrer hoje. Tenho preguiça de ficar aqui deitado. À espera. Tenho preguiça de recuperar os poemas que encontrei sepultados na tua boca. Tenho-me de pé!! Sim, tenho-me na vertical. Fumo mais meia-dúzia de palavras às escuras. Espeto um prego em cada uma delas, mas, apenas e só, nas extremidades das sílabas tónicas. Chove. Cá dentro também. Corro para o exterior do quarto e adivinho um décimo do teu perfume nas fotos que ainda resistem ao gesto destemperado de te rasgar a ausência. Procuro os meus olhos no espelho. Recuo perante a tua omnipresença semi-nua. Refugio-me no interior de um envelope qualquer sem remetente e envio-me com destinatário desconhecido, publicamente anónimo.
Pois é, tenho o mau hábito de espiar as zonas quebradiças da tua alma e tu tens o mau hábito de me fazer regressar à vida quando os soníferos aceitam o embalo envolto na anestesia de água doce que a chuva faz cair sobre mim.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Retrospectivas

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Emoção perpétua

Nas galerias da memória o esquecimento é única recompensa, o amor surge aparente sob a forma de uma fabulosa punição. Ultrapassas a mera condição de estranho. Atiras beijos em todas as direcções, continuas a desconhecer qual deles chegou inteiro ao destinatário. Escreves baixinho para não fazer barulho. Não vá o ranger do lápis despertar os esqueletos dos fantoches que desenhas na tua alegria paralítica.

O esquecimento, a tua muleta, porque há coisas que só são agradáveis enquanto apagadas.

Só existe um caminho para quem já se esqueceu que as pernas servem para voar. Voar do lado alado da rua.

Pois, andar para trás também é viajar.

Cultivo a recriação de um ontem, aqui, com as sementes do amanhã. Existo para te reconciliar com a tua solidão. Escrevo para me decifrar. Mas é a ti que encontro. O ontem ultrapassado é hoje mais uma ponte por atravessar. Não consegues estabelecer um diálogo sem que o dia logo anoiteça. Se houve palavras. Eram postiças. Se houve amor. Era inventado. Se houve sentimento. Era incompleto. Se houve sonho. Tornou-se realidade no intervalo da alma. Se houve tu e eu. Agora só existe eu e eu. Se houve gente. Sobrepôs-se a distância. Entre o silêncio e o monólogo com o qual entretenho as paredes com aplausos à vida.

Internamente festejo o rio que se fez Tejo e ter na mente uma onda onde nada me prenda. Do mar esperar o teu regresso para domares a braveza das marés. Para domares as feras que mendigam os teus mimos, o corpo das palavras inabitáveis, mas, irresistivelmente vivas!

Pudesses tu ser criança e ter o mundo como um eufemismo!

Quem souber, que me responda!!

Como pode o amor ser uma emoção perpétua, como? Ser caótico e criar uma realidade nítida, como pode? Ser revolto, extremo, punição absoluta, puro, impuro, tímido, infinitamente tímido, derradeiro, desumanamente impetuoso, obscuro, fresco, aceso, vacilante e insuperavelmente amar-go se todas as qualidades atribuíveis ao seu charme te parecem sujeitas ao envelhecimento? Quem souber, que me responda. Oxalá a fractura da viagem não nos arranhe e nem arrepie os sentidos, tomara que o esquecimento não seja a única recompensa, oxalá as palavras consigam ilustrar um combate saudável e arrojado com o enigma que nos convoca a costurar todos os dias um pouco da nossa fractura de esquecimento. Oxalá o futuro não vire costas ao passado e que o presente seja magistralmente, nem mais nem menos, uma emoção perpétua!

terça-feira, 8 de abril de 2008

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Luzes, câmara, acção!!

Não fui eu que cuspi a saudade pelos poros da tua língua. Não fui eu que te consolei com pseudo-carícias perdidas no arco do violino que jamais soubeste manejar. Não fui eu que te estendi a mão. Estendi um abraço e de tanto apanhar sol, secou. Não fui eu que te amei. Não! Não fui. Foste pedaço de sonho. Personagem secundária do meu enredo. Esta película poematográfica de ilusões em exibição no eterno cinema da minha cama onde sou o realizador das tuas insónias e o telespectador do meu sono. Não fui eu que avariei os teus sentimentos depois do divórcio. Depois do penúltimo suspiro à beira da infidelidade. Depois de descobrirmos que nada tínhamos a ver um com o outro além de sermos dois desconhecidos a partilhar o mesmo leito. Não fui eu que te fiz chorar ao esconder a tua identidade debaixo de água para que submersa em futuras memórias minhas fosse amnésia. Não! Eu não fui.
No fundo do posso esqueceste que só eu poço alterar a ordem incontornável das palavras e simular equívocos na gramática do teu raciocínio e desentupir as artérias dos esconderijos que injustamente te escondem do palco e disparar um grito sem adulterar o som do seu eco irrepetível e engolir os teus assobios nocturnos e remastigar a saudade como um oleiro a rasgar uma fatia de barro e entrar num confessionário e não ter senão uma única palavra para dizer: Sim! Sinto-me dono das minhas alegrias fulgurantes e das outras insinuações também. Sim, cometi o delito premeditado de não te chorar e de me tornar intuitivo e quebrar as arquitecturas dos teus caprichos e remover-te daqui para bem perto e ser trágico como a imperfeição de existir e magnânimo como um bicho teimoso a refilar com a monotonia e ousado diante de ti e fecundo diante da vida e não ter principio meio e fim e não me repetir nunca, nunca, nunca. E já agora, que se lixem os trezentos e não sei mais quantos dias do ano. De ti, só quero um minuto. Para te esquecer!
Corta!! Pára tudo!! Desliguem os projectores!! Desmontem o cenário!! Acabou. Não filmo nem mais um segundo deste espectáculo cujo seu próprio destino não domina.

terça-feira, 1 de abril de 2008

segunda-feira, 24 de março de 2008

Quase Poema

No teu colo, um cardápio soculento, algarismos de um livro mudo blindado com a coreografia voluptuosa dos beijos que nos lábios ficaram interrompidos por serem impermeáveis ao infinito, no teu corpo, escrever a minha última frase, moldar o eixo e a raíz do teu hálito, rebuscar o perfil da tua língua na minha imaginação sem entrada nem saída, pintar o meu rosto de negro com um bisturi, morder o lugar da ferida, desnortear-me nas curvas da tua estátua de fina porcelana, extraír o sumo gota à gota como lágrimas entre parêntesis e risos entre aspas. No teu colo, acreditar que sou interminável como uma bola de sabão, que terei como desenlace um epitáfio desabitado pelo teu airoso desviver, acreditar que terei uma orquestra a embalar o teu dormir, que gravarei o requinte dos teus gestos pendurados por um fio de saliva na minha boca, no teu colo, darei cor ao carvão que pinta a epiderme dos meus olhos e no corpo serei quase poesia, quase poema, quase humano, quase loucura, quase nada, quase sempre tudo ao contrário, quase um coração vazio gravemente de boa saúde, quase um cardápio que não sei, quase um livro mudo talvez blindado com a coreografia interrompida da tua primeira frase que dança no meu diário sem entrada nem saída, quase um rosto incolor pintado de uma cor qualquer nos lugares sem ferida, quase uma bússola das curvas e contra-curvas entre parêntesis intermináveis como um epitáfio prospectivo escrito a carvão, quase sempre tudo como previsto, quase dois corações cheios levemente amantes por um fio entre vírgulas e afectos.

quinta-feira, 20 de março de 2008