domingo, 22 de fevereiro de 2009

Solicitude

Loucura-me o silêncio monossilábico que desce ao longo de mim. Cura estes dias que não são mais iguais a estes e desliga o tempo. Estou ausente. Fui amparar os caminhos que perderam os passos. Fui sorrir às escondidas dos aplausos que te insultam pelas costas.

Porque só deixarei de te amar se for em legítima defesa do meu coração!!

Cura-me a amnésia de te lembrar porque já fui. Fui renascer-me. Fui chafurdar na lágrima buscada à força. Sem ninguém ver. Quando me lembro de ti. Não me lembrei de nada. Remexi as efemérides do teu corpo desembelezado. Desatei-me e fui saborear o mar. Não fui.

Calaram-se-me os olhos.

Fui. Nestes dias em que chego a casa e me falta tempo e silêncio para fazer amor com as palavras. Fui vasculhar todos os poematórios encharcados com os teus soluços e só encontrei expressões digitais de solicitude.

Com ternura de dar poesia na boca e água fria por entre os pensamentos fui trocar de sono. Procurar uma vírgula que me aliasse à vida antes que a noite se transformasse em ponto final. Quando me lembro. Esqueci. Já é arde demais cá dentro. Arde tudo tão tarde. Tão verde de meter receios dentro do quarto de horas quadriculadas onde estou visceralmente vivo. Tarde para aquietar a cadência do voo sem amarrar as minhas veias à volta das asas das palavras. Mas apenas tarde para aquietar a cadência das palavras. Tarde para nunca ser tarde. Airosa.

Nunca as lembranças de mim que tardam vivem e se esfregam debaixo da terra e se contorcem no asfalto e sobrevivem no verde da espera que é tudo que parto e vejo desnascer é hoje que bato palmas endurecidas entre os dedos é amanha nuvem arrefecida parida gota a gota que não vem é nunca ser passado é continuar a presentear-me com o presente é apartar de ti a tarde que nos perde é palavra bonita que não se escreve com febre no acento circunflexo é pedir emprestado o céu é receber uma estrela e não devolver é ainda estar vivo sem ninguém ver é nunca ser noite nem tarde é adjectivo que sou quando me transmito aos outros por palavras meras que me desconhecem e estou amante dela e de mim e de mim sou curativo das núpcias em mau estado de conservação e habitar a solicitude de olhos vendados por um vendaval de ar fresco habituar o corpo a falar com as mãos desabotoar-te a timidez fazer um motim nos cobertores até as molas da cama estremecerem cansadas saciadas no desfôlego levemente de pedra e sono é ser pirâmide inacessível é ser prosa sinuosa. De pedra e sono. Cheguei. Agora. Por pavor vem atirar a limpo esta história. Atirar a limpo os rumores ressequidos de boca em beijo. Mas apenas de boca. O beijo são palavras que te dou na alma. Estas figuras sem estilo endiabradas graças à real aparência do profundo que não têm. Isso mesmo. Por favor. Omniapresenta-te!!

A solidão é uma sucessão de momentos cheios de vazio!

Mas. Sem medo na ponta da língua caminharei para mim em alvoroço. Guardarei a colheita deste bailado tão raro. Chegarei destemido e sem margens como as que delimitam o azul das águas. Podes pensar o que nem eu sequer sinto. Mas. Longe levarei o meu sorriso. Mesmo quando ir mais longe significar não sair daqui. Pois. Estou longe e para além de mim não há distâncias.

Agora. Por pavor. Deixa-me não escrever. Deixa-me ser aliterário. Beija-me ser às escuras o fulgor das tuas feições interiores. Sem ninguém ver.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

A justiça não se injustifica por si. A sua ineficácia não escapa à responsabilidade do legislador passivo e servilmente obediente que cada um de nós é!